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Teolinda Gersão

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  A escrita é um jogo de sedução. ― Teolinda Gersão, Entrevista a Caras   Não somos nada, poeira no vento, silhuetas minúsculas, na imensidão da paisagem. ― Teolinda Gersão, A árvore das palavras   Teolinda Gersão. Foto: Sonja Valetina Os leitores mais atentos às literaturas de língua portuguesa não podem deixar de colocar na lista de importâncias o nome de Teolinda Gersão. Ao lado de outras importantes ficcionistas, ela é autora de uma obra singular e já reconhecida por alguns dos mais importantes meios literários dentro e fora do seu país.   Com a profissão de escritora, exerceu durante variado tempo o ofício de professora na Faculdade de Letras de Lisboa e da Universidade de Lisboa. Neste período esteve como pesquisadora e escritora residente em outros lugares, estadias que lhe favoreceu a diversificação dos interesses e das paisagens na sua literatura, que se integra claramente num cosmopolitismo recorrente entre os chamados escritores novíssimos.   Dos lu...

Salò ou os 120 dias de Sodoma, de Pier Paolo Pasolini

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Por Pedro Fernandes Pier Paolo Pasolini é apontado com um dos mais fecundos intelectuais italianos do século XX. Poeta, ficcionista, ensaísta, crítico literário, teatrólogo, linguista, argumentista, roteirista, cineasta, teórico de cinema, interessou-se ainda pelas artes plásticas, escreveu inúmeros artigos em jornais e revistas e manteve uma intensa correspondência com amigos e leitores. Quer dizer, um universo rico e impossível de ser alcançado porque sempre em expansão a partir das leituras que sobre ele se fizeram desde então.  Salò ou os 120 dias de Sodoma é seu último trabalho para o cinema. O filme é também uma das obras mais perturbadoras da história do cinema: pelo seu conteúdo - a primeira coisa que logo chamará atenção do telespectador, evidentemente - mas, também pela leitura terrível que o cineasta faz acerca do modelo social que se estabelece com a estabilização do modelo burguês capitalista no centro de mando e de poder.   Da primeira ...

Budapeste, de Chico Buarque

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Por Pedro Fernandes Em se tratando da dissolução dos sujeitos e das identidades na contemporaneidade, todos os romances de Chico Buarque anteriores a Leite derramado (neste a presença é menos significativa, mas não menos operante) apontam nessa direção; cite-se Budapeste em que o protagonista José Costa na volta de um congresso de escritores anônimos é, devido a um pouso inesperado, preso por um dia numa cidade de língua incompreensível, configurando-se, desde então, sujeito em trânsito, escorregadio, “em-busca-de/ encontrar-se com”. Budapeste com sua amarelidão acaba por se constituir ponto de fuga daquela sua incômoda realidade: basta relembrar que a personagem em questão é um ghost-writer  que  vive um casamento entediante e Vanda, sua mulher, diferentemente dele, que o sucesso é o brilho do outro, é uma jornalista reconhecidamente de alto prestígio. No fugir de sua rotina anônima e no encantamento que a personagem vai nutrindo pela cidade desconhecida, podemos in...

A 18, encontro com José Saramago (IV)

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Sabido é que todo o efeito tem sua causa, e esta é uma universal verdade, porém, não é possível evitar alguns erros de juízo, ou de simples identificação, pois acontece considerarmos que este efeito provém daquela causa, quando afinal ela foi outra, muito fora do alcance do entendimento que temos da ciência que julgávamos ter. [...] E nem adianta acrescentar que a qualquer um sobejam razões para se julgar causa dos efeitos todos, estes de que viemos falando e mais os que são nossa parte exclusiva para o funcionamento do mundo, o que eu muito gostaria de saber é como ele será quando não houver homens e os efeitos que só eles causam, o melhor é nem pensar em tal imensidão, que faz tonturas, ora, bastará que sobrevivam uns animaizitos, uns insectos, e mundo haverá, o da formiga, o da cigarra, não afastarão cortinas, não se olharão num espelho, e isso que tem, afinal a única grande verdade é o que o mundo não pode ser morto. [José Saramago, A jangada de pedra , p.13]  ...

Sobre II Festival Literário da Pipa

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Por Pedro Fernandes O moçambicano Mia Couto que será a grande atração do II Festival Literário da Pipa 1.  Determinadas ações quando se repetem vem com a natureza de que foi uma ideia que deu certo. E determinadas ações em prol da Literatura, espaço esquecido pelos do poder político que sonegam o olhar devido e merecido, quando se repetem é muito bom; acabam por compor signo de resistência a bailar frente ao poder cerceador de que  a literatura é uma manifestação artística autônoma. 2.  É esse o sentimento que me chega ao abrir o jornal Tribuna do Norte e saber que o escritor e produtor cultural Dácio Galvão, através da Fundação Hélio Galvão e do projeto Nação Potiguar, vai novamente reunir importantes nomes da literatura — de abrangência local à internacional — para juntos fazerem a segunda edição do Festival Literário de Pipa-FliPipa. 3.  O evento já tem data e tudo: será entre os dias 18 e 20 de novembro, no trecho pr...

Mídia e eleição

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Não é de hoje que a mídia brasileira tem estado em posição A ou B durante o período eleitoral. Antes, é verdade, a coisa corria mais sorrateira. Ou não. Talvez a sociedade brasileira ainda não estivesse em alerta para as decisões que eram tomadas na cúpula do poder. Hoje, me parece que a coisa não mudou muito, é verdade: ainda damos crédito a tudo que ela noticia e não vemos que o fato jornalístico é em si caleidoscópico. Isto é, passa-se pela mão de um grupo dotado de uma corrente ideológica, cujo interesse será sempre o de falar em nome de si próprio, fazendo do fato elemento de muitas faces, todas elas aplicáveis. De modo que, hoje e sempre, a mídia tem se posicionado muito claramente no lugar de si própria. O lado, infelizmente, de interesses escusos. E tudo me lembra muito ao cenário costurado no auge da Ditadura, em que a mídia, estando ao lado dos do eixo do mal por causa de seus próprios interesses esteve colocando a mercê toda a sociedade brasileira. Há q...