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Tradução de “Uma cena de Fausto”, de Aleksandr Púchkin

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Por Joaquim Serra   Nesta cena de Fausto , temos um exemplo do empréstimo que Aleksandr Púchkin faz da literatura mundial. O pacto selado entre Fausto e Mefisto, para o escritor russo, adquire traços do tédio que faria um longo caminho pela literatura do século XIX. E Púchkin, que não leu a segunda parte da tragédia de Goethe, já identifica no assunto fáustico a destruição que vai tomar lugar principalmente em Fausto II .     Aquele fomentador, criador visionário, que ironicamente vislumbra o mundo da igualdade quando está cego, aqui está preocupado com a monotonia dos dias, ganhando aspectos da própria aristocracia ao redor de Púchkin. O leitor de Púchkin sente falta nesta Cena daquele narrador intruso, que remexe na vida e na alma de suas personagens em Eugênio Onêguin . Esse componente essencial que enforma o modo próprio do autor em narrar a vida russa, dá lugar aqui ao diálogo por vezes cínico entre Fausto e Mefisto.   Para esta tradução, optamos por uma versão...

O fim, de Karl Ove Knausgård (1)

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Por Pedro Fernandes Karl Ove Knausgård. Foto: Nina Rangøy    O último volume de Minha luta é um contínuo adiamento do fim e sua leitura cobra o mesmo esforço do leitor. No sexto livro, Karl Ove Knausgård pratica o realinhamento do tempo. A narrativa salteia por circunstâncias do seu passado, recupera-se mesmo passagens das partes anteriores, mas agora, o tempo do organizador se confunde entre o do acontecimento e do presente da narração. Isso acontece em parte porque o ponto final do longo romance coincide com a feitura do seu desfecho, ou seja, nesse instante, arma-se uma maratona para a escrita do restante do romance enquanto os primeiros tomos são publicados e numa curta distância temporal entre um e outro mais uma variedade de empecilhos familiares. Como então se conciliam o elastecimento da conclusão e a necessidade de atender o plano da editora?   O caso é que não se conciliam. É verdade que O fim não chega a ruir com a estrutura do projeto autobiográfico, em que ...

Lamb: uma família entre outras

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Por Fernanda Solórzano   Não me lembro de ter visto um filme parecido com Lamb antes. Não é um julgamento de valor, embora poucas coisas me empolguem tanto quanto aqueles filmes que nos afastam de suas reações habituais. Vencedor do prêmio de melhor filme na recente edição do Festival de Sitges, dedicado ao cinema fantástico, e do prêmio de originalidade na seção Un certain regard , em Cannes, Lamb foi descrito como um filme de “horror sobrenatural”. O adjetivo é indiscutível: o acontecimento central da trama escapa às leis da natureza. Mas é uma história de terror? Eu não teria tanta certeza. Não é para os protagonistas; eles, ao contrário, sentem-se abençoados pela irrupção do sobrenatural na vida cotidiana. Sua experiência deve ser o critério a ser considerado.   Primeiro longa-metragem do islandês Valdimar Jóhannsson, Lamb se passa em uma daquelas paisagens que ilustram a ideia de “fim do mundo”: um vale montanhoso cuja majestade é de tirar o fôlego, mas que não necessa...

O que se passou entre Roberto Bolaño e César Aira?

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Por Juan Tallón Roberto Bolaño. Foto: Revista Paula . Em julho de 2008, César Aira (Argentina, 1949) ministrou um curso em Santander, organizado pela Universidade Internacional Menéndez Pelayo. Custava cem euros e incluía uma bolsa para se hospedar quatro noites no Palacio de la Magdalena. Por acaso, naquele exato momento eu tinha o dinheiro e me inscrevi. No primeiro dia, uma hora antes de começar, desci para o café da manhã e encontrei Aira sozinho, tomando um suco de laranja vagamente natural, e com um ovo frito no prato, que era meu café da manhã favorito, mas para o jantar. Sentei-me ao lado dele e depois de um tempo me dizia que o nome do seu avô era Robustiano e que era de Sobradelo, em Ourense. Aira não sabia, nem eu, que em Ourense existem três vilas com esse mesmo nome. Pouco depois, Michel Lafon, professor de literatura argentina na Universidade Stendhal de Grenoble, romancista e tradutor de Aira, Borges e Bioy Casares para o francês, juntou-se ao café da manhã. Cascavilhamo...

A criação do mundo segundo os maias

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Por Raúl Rojas Ilustração de Diego Rivera para Popol Vuh .    Os maias foram a única cultura na América indígena que chegou a ter um sistema de escrita avançado. Tão desenvolvido, de fato, que lhes permitiu esculpir seus mitos e lendas em estelas de pedra, capturá-los em cerâmica ou murais, ou registrá-los em livros feitos de finas folhas de casca de árvore, os chamados códices. Poucos exemplares dessa incipiente literatura mesoamericana sobreviveram à destruição na fogueira, produto do fanatismo religioso dos clérigos espanhóis. No entanto, o Popol Vuh , a narrativa sagrada dos maias quiché, pode ser salva do esquecimento. Antes da conquista, as lendas maias eram transmitidas principalmente oralmente, algumas das quais com séculos de existência. Após a conquista, talvez em 1550, o Popol Vuh foi preservado usando o alfabeto latino. Aparentemente os autores da transcrição eram nobres maias da área cultural quiché, onde hoje fica Santa Cruz, na Guatemala.   Popol Vuh sig...

Boletim Letras 360º #480

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    DO EDITOR   1. Caro leitor, como o tempo voa rapidamente, é possível dizer que já entramos na reta final para o próximo sorteio no clube de apoios ao Letras. Aproveite que este será o último sorteio da temporada nesse formato.  2. Como já disse noutras edições deste Boletim, desta vez, sairão três livros da editora-parceira Companhia das Letras: romance O avesso da pele , de Jeferson Tenório; o livro de contos Gótico nordestino , de Cristhiano Aguiar; e o romance Ossos secos escrito pelo coletivo formado por Luisa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado.   3. Para se inscrever é simples. Envia R$25 através do PIX blogletras@yahoo.com.br ; finalizada a operação, envia neste mesmo endereço (nosso e-mail) o comprovante. O sorteio está previsto para o dia 29 de maio. A escolha dos títulos desta vez sublinha o Dia da Literatura Brasileira (celebrado no primeiro dia do próximo mês) e a pluralidade de novas vozes de nossa litera...