Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa





Acusado de dar as costas para sua cultura, nesta obra o cineasta mescla uma dinâmica de ação com uma tradição tipicamente japonesa


Na juventude, Akira Kurosawa desejava ser pintor. Incentivado pelo irmão mais velho, cinéfilo de carteirinha, e apaixonado pela produção americana (sobretudo a de seu ídolo John Ford), enveredou pelos caminhos da Sétima Arte para não sair mais. O passado artístico, porém, nunca deixou de influenciar os métodos de trabalho do diretor: todos os seus longas foram concebidos por meio de um meticuloso trabalho de composição. Kurosawa fazia storyboards enormes em forma de quadros, levava meses filmando e utilizava no mínimo três câmeras para cada cena. Tanto esforço deu resultado: tornou-se o mais respeitado cineasta japonês. Deixou marcas em obras tão distintas quanto os westerns de Sergio Leone, a saga de Guerra nas Estrelas (1982-86) e os pontos de vista múltiplos de Quentin Tarantino (saídos de Rashomon, de 1950). Só sofreu a resistência em seu país natal, onde foi acusado (injustamente) de ser ocidentalizado.

Os Sete Samurais é seu trabalho mais marcante. A idéia da trama veio quando Kurosawa ouviu falar de uma vila que contratou samurais para defendê-la de constante saque de bandidos. No filme, é o mestre Kambei (Takashi Shimura) quem recruta outros seis guerreiros para proteger a aldeia. Vale prestar atenção no modo como que o diretor tece os contrastes de temperamento de cada samurai e explora sentimentos, como honra, motivação pessoal e a ambigüidade entre coragem e covardia. O personagem de Toshiro Mifune (colaborador freqüente de Kurosawa), por exemplo, instiga por sua ânsia em virar guerreiro e, ao mesmo tempo, pelo medo de não dar conta da função.

O filme faturou o Leão de Prata no Festival de Veneza. Foi o período feliz para o cineasta, que obteve sucesso internacional com todos os seus trabalhos até 1965. A partir da década de 1970, com dificuldades para conseguir verbas, entrou em depressão e até tentou o suicídio. Akira Kurosawa teve, porém sua carreira salva por fãs como os diretores George Lucas e Francis Ford Copolla, que o ajudaram a buscar financiamento para Kagemusha (1980), Ran (1985) e Sonhos (1990). Uma espécie de justiça tardia para com o homem que começou inspirado pelo cinema ocidental mas acabou influenciando-o sem perder o espírito oriental.


* Revista Bravo!, 2007, p. 37


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